SAN ANTONIO, AGOSTO DE 2004

San Antonio, agosto de 2004


Meu filho ficou muito doente. Era meu único filho. Eu o criava sozinho desde a morte de seu pai. Era uma vida difícil, mas eu dava o meu melhor. Mas ele ficou doente. Eu desconfiei que fosse culpa da companhia de petróleo que estivesse contaminando a água do bairro. Um dos problemas de se morar na periferia. Quando fui até eles, me deram algum dinheiro pra que eu pudesse mandar meu filho morar com a tia na Flórida e ter um bom tratamento médico. Meu filho era tudo pra mim e eu aceitei.

Uma noite, eu caminhava pelas ruas do subúrbio pensando em como estaria meu filho na Flórida. Foi quando apareceu o espírito de meu marido. Fiquei assustada. Melhor, fiquei aterrorizada. Desde sua morte, nossa vida tinha virado um inferno. Aos poucos perdemos tudo. E ele estava lá, na minha frente. Não sei de onde tirei forças pra permanecer consciente. Minhas pernas pareciam não conseguir me sustentar. E ele fez um sinal pra que eu o seguisse.

Entramos no terreno da companhia de petróleo por um buraco na cerca. Bom, pelo menos EU precisava daquele buraco. Quando estávamos chegando perto do edifício principal, eu ouvi tiros. Tive vontade de fugir, mas meu marido, morto, pedia pra que eu o seguisse. Como eu poderia me recusar?

Havia dois homens no chão e uma mulher e outro homem com eles. Eram os invasores. Três guardas também haviam sido derrubados e outros dois ainda estavam de pé. Foi quando um deles caiu sem qualquer explicação, sobrando apenas o casal de transgressores e o último guarda. Foi quando eu vi seu rosto. O guarda. Era ele o homem que havia matado meu marido com quatro tiros anos atrás. Mas, pior que isso, eu soube, de alguma forma, que ele não era apenas um guarda. De repente, vi seu rosto começando a tomar uma nova forma. De um chacal. O invasor atirou duas vezes nele, mas os buracos de bala logo cicatrizaram. O chacal já tinha mais de dois metros de altura e seguia crescendo. Ele avançou pra cima do homem e golpeou-o com suas garras. Sua cabeça foi arrancada com o golpe. A mulher parecia estar jogando algo em cima de um revólver velho. Algum tipo de pó. Não sei. Ela também me parecia estranha. Mas a criatura era muito rápida. Assim como ela tinha acabado com a distância de vários metros entre ela e o casal e ainda golpeado o homem em instantes, ela deu com suas garras no braço da moça que segurava a arma. E o braço foi arrancado. A mulher gritou de dor e caiu no chão de joelhos. A criatura então foi com sua bocarra na direção de seu rosto.

Virei os olhos pra não presenciar a cena e vi Jack, meu marido. Ele apontava pra arma. Ou melhor, pro braço da moça que fora arrancado e caíra perto de mim. Não hesitei. Meu mundo perdera o sentido quando fui obrigada a me afastar de meu filho. Já havia perdido Jack. Nada mais fazia muito sentido pra mim. Saltei na direção do braço e peguei o revólver. Eu não atirava desde a morte de Jack. Ele tinha uma espingarda e, nos finais de semana, gostava de dirigir pra áreas isoladas pra atirarmos em latas. A espingarda fora vendida anos atrás.

Mal peguei o revólver e apontei pra criatura. Ela teve tempo apenas de virar-se em minha direção. Eu atirei. E, desta vez, a ferida não cicatrizou. Ela parecia assustada. Eu atirei de novo. De novo. E de novo. E de novo... Até que ouvi o clique. Acabara a munição. Mas a criatura estava no chão. Corri pra casa sem largar a arma. Vi Jack sorrir pra mim e desaparecer. Ele estava vingado.

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