BERLIM, MARÇO DE 2001

Berlim, março de 2001


A montanha que eu tenho escalado é mais escorregadia que um iceberg. Não que eu esteja literalmente escalando uma montanha. Ah, merda. Você me entendeu. Eu estou numa nova investigação.

Quando minha irmã foi morta numa troca de tiros entre desgraçados de gangues diferentes, eu resolvi me tornar um policial. No começo, eu fazia meu trabalho. Caçava os bandidos, protegia os inocentes e botava medo nos moleques, falando de todo tipo de mal que as drogas podem causar. Eu até exagerava um pouco, mas porra, que mal há nisso? Eu precisava evitar que eles entrassem naquele inferno.

A mudança então começou. Eu levei alguns meses pra perceber o que estava acontecendo comigo. Não tinha a quem apelar. Tudo parecia bizarro. Eu tava caçando traficantes, mas parecia que o drogado era eu. Foi quando eu descobri o covil do chefão daqueles babacas. Já tinha prendido alguns, matado outros. Alguns de meus amigos também tinham morrido ou ficado aleijados. Já tinha se tornado uma questão de honra.

Quando eu entrei naquele prédio, eu soube que algo estava errado. E não era o cheiro de esgoto ou o barulho de água correndo. Era outra coisa. Mas eu não sabia o que era. Me concentrei enquanto subia as escadas. Aquele filho da puta já havia condenado a morte pelo menos dez mil jovens em Berlim. Era a hora da revanche. Eu não pretendia levá-lo comigo. Eu faria justiça com as próprias mãos.

Derrubei a porta com um chute. Meu parceiro me dava cobertura. O cheiro do lugar era podre. Era impossível saber como alguém suportava viver naquele lugar. As luzes de todo aquele prédio não funcionavam e minha lanterna parecia não querer funcionar. Suas falhas constantes só aumentavam a tensão.

Foi então que aquele homem apareceu. Eu sabia que era ele. A descrição não poderia ser mais perfeita. A velha roupa da SS. A barba malfeita. O cabelo ruivo. Atirei. Não duas, nem três, mas seis vezes. Contava que o porco estaria no chão, sangrando. Meu parceiro foi pra cima do corpo que caíra com o impacto das balas. Quando ele se abaixou pra conferir a pulsação, eu enfim consegui ouvir a voz. Aquela que tentava falar comigo desde que eu entrara no prédio. Que gritava, mas num grito engasgado, abafado. E um calafrio subiu pela minha espinha. Meus músculos congelaram. Droga! Eu devia ter ouvido a voz!

- “Ele está morto, mas ainda caminha...”

Ele se levantou rapidamente, com presas enormes em sua mandíbula e avançou no pescoço de Wilhelm. Ele não teve tempo de reação. Eu queria atirar nele, mas o medo parecia paralisar meus membros. Wilhelm morreu ali mesmo. Não sei se levou segundos, minutos... Só sei que, quando a criatura o largou, eu olhei nos olhos dele e corri. Corri muito. Que merda! Naquela noite eu soube que eu precisaria de outro tipo de ajuda...

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